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Casada, escritora, com a alma rodeada de perguntas... Amo escrever... Sou alguém que coloca o coração em tudo o que faz... Que dá o seu melhor... E que ama traduzir sentimentos!

sábado, 29 de junho de 2013

Angelita


Sentada ao pé da escada
Vestido de missa
Com laço de fita no cabelo
A menina dos cabelos castanhos
Balança entre as mãos
O relicário da avó.
Ganhou quando completou quinze.
Isso lá se vai mais de dez.
Mas, ainda guarda na face
O rubor da meninice.
Nos pés, os sapatos de boneca brancos
Quase combinam com as meias, lilases.
Na altura da canela
Encobrem a vergonha de olhares despudorados.
Mas, por mais que recubra seu corpo,
Sua mente é astuta.
Busca delírios pecaminosos.
Tão somente entre as folhas de seu diário.
Guarda para si cada pecado mais perverso.
Para se arrepender, depois.
E autopunir-se em penitências.
Faz as vontades da mãe
A bigoduda dona Olinda.
Mulher do Horácio das Neves.
Seus desejos, suas ideias
São tão somente suas.
Suas e do seu fiel amigo de pelo, Astolfo.
Com suas orelhas em pé,
Ouve tudo e balbucia respostas.
Mas, não adianta.
Ela não compreende grunhidos e latidos.
Ela mal compreende a si própria.
É virgem de natureza e de signo.
Um pouco detalhista.
Com algumas manias de infância
Que não mais irão embora.
É teimosa feito mula empacada.
E quando empaca... Ah! Deus!
Guarda na pele o perfume das flores do campo.
E também o rosado do sol da manhã.
Gosta de caminhar entre os bancos de pedra.
Assim que o sol sai de traz das nuvens.
Não entende de modernidade.
Talvez nem saiba o que é isso.
Faz bolo de fubá com erva-doce
De lamber os dedos e os bigodes.
Servido com café de coador de pano.
Hum!
Findam a tarde de primavera...
É meio selvagem, por vezes.
Quer responder às avessas.
Mas engole um sapo ou outro
Só para não ter mais penitências a cumprir.
É boa de cama, mesa e banho.
Só não tem um par de botas para chamar de seu.
Talvez um dia encontre
Numa das viagens de trem, pela capital.
Talvez seja o picador de passagens
A suportar as espetadas
Dos bigodes da sogra intrometida.
Não sabe ela.
Não sabemos nós.
Sentada na escada de pedra
Espera a avó, Amélia, descer da maria-fumaça.
Vem com biscoitos de nata na lata
E com muitas histórias e conselhos.
Ensina feito menina
Aquela que um dia viu nascer.
E reza, baixinho
Para que não lhe dê nunca desgosto algum.
Sentada no primeiro degrau,
Fecha as pernas e abre os sonhos.
Para depois dividi-los com os papéis amarelados
A pena e o mata-borrão.
Seu nome?
Prazer!
Angelita.

Um comentário:

  1. Que liiiindo, adoreeeei, perfeito... você é maravilhosa com palavras... te amo!

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