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Casada, escritora, com a alma rodeada de perguntas... Amo escrever... Sou alguém que coloca o coração em tudo o que faz... Que dá o seu melhor... E que ama traduzir sentimentos!

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Arrependimento



Passa das duas.
E o sono ainda não veio.
Pisco, pisco...
E o máximo que faço é bocejar.
Talvez por ansiedade.
Talvez pela falta de companhia.
O conhaque e o gato
São os únicos a suportar-me, há muito.
Sentam ao meu lado, no sofá velho,
Como se fossem da família.
Como se tivessem o mesmo sobrenome.
E no fundo fazem parte.
Com um grau de parentesco estranho,
Ouvem meus martírios de um quase velho.
Resmungo desde que perdi a alegria.
E isso já faz muito.
Na verdade, não sei se namoramos algum dia.
Não sei se fomos amantes, amigos que seja.
Perdi o foco e o fôlego.
E fui me atrofiando enquanto gente.
Deixei-me atrofiar, é verdade.
Fui me aniquilando com o passar dos anos.
Perdi-me em insanidades, leviandades.
E hoje não posso cobrar algo bom.
Sempre me senti poderoso.
Mas, quando olho no espelho,
Vejo que o poder era mera substância.
Vejo o retrato do desgaste estampado nas rugas.
E a falta de desejo lá no fundo dos olhos.
Quase não me reconheço.
Quase não me reconhecem mais!
Perdi a autenticidade.
Toda ela.
Perdi-me de mim.
Aos poucos, com os anos.
Perdi-me em pedaços pequenos.
Deixados de lado a cada porre, em cada esperma.
Deixei-me ir por água abaixo
Numa velocidade tamanha
Que por mais que me busque, por aí,
Jamais me encontrarei inteiro, novamente.
Não por falta de querer procurar.
Mas pela falta de realmente me encontrar!
Passo as madrugadas ao lento.
Por vezes, embriagado.
Noutras, sentindo o vento gelado
Adentrar em meus bigodes.
Curto minha solidão irreparável.
Não por querer curtir.
Porém, pela falta extrema de companhia.
Faz tanto que não sei o que é um café a dois.
Um café quente com bolo de fubá, feitos na hora.
Hoje, o amargo e gélido café preto...
Posto na xícara descascada e lascada,
E um pedaço de pão.
Amanhecido.
Como eu.
Como minha realidade.
Nada, além disso.
Faz muito que não me acho.
Que me enrolo debaixo das cobertas
Por medo do que verei refletido
No quadrado de aço e vidro pendurado na parede.
Talvez não valha a pena olhar.
Talvez não valha a pena confrontar.
Por talvez já conhecer o final disso tudo.
Uma velhice estampada.
Porém nada familiar.
Uma consciência martelando no fim da vida.
E a total incerteza de valer a pena ou não
Todo esse sacrifício de vida.
Todo esse confronto entre mim e meus atos.
Por hora, prefiro um conhaque aqui, na solidão.
O ronronar do gato, tão velho quanto eu.
E o barulho do grilar na madrugada.
Enquanto não for conversar com São Pedro.
E ver se vou para o inferno, de vez.
Ou se passo um tempo no céu,
Como forma de arrepender-me.
Talvez um dia.
Não já.

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