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Casada, escritora, com a alma rodeada de perguntas... Amo escrever... Sou alguém que coloca o coração em tudo o que faz... Que dá o seu melhor... E que ama traduzir sentimentos!

sábado, 7 de junho de 2014

Marina, Mariana...



Levava vida de princesa.
Mas seu maior desejo era outro.
Observava os cartazes das moçoilas de cabaré.
Seu sonho era atuar.
Da maneira que fosse.
Com chapéu.de pena no canto da cabeça.
Ou com meio fraque e cartola de cetim.
De pernas de fora, numa meia arrastão.
No salto e no batom cor de escarlate.
Via nessa ansiedade a chance de mudar de vida.
Tinha vida bacana, vestidos de bom corte.
Na gola, um broche por dia.
Nas mãos, as luvas de renda que mamãe fazia.
Sabia dos afazeres domésticos como mestra.
Todavia, seu sonho era o estrelato.
Sonhava com o canhão de luz iluminando suas pedrarias.
Bordar já sabia.
Era toda cheia de predicados.
Porém, tinha que manter a pose.
Era filha de família tradicional.
Com pai banqueiro e mãe, dama da sociedade paulistana.
Seu nome era doce, Mariana.
Entretanto, queria que a chamassem de Marina.
Mentalmente, chamava-se assim.
Pensava ser mais imponente do que seu nome de batismo.
No fundo, sentia-se presa.
Prisioneira de um recato que não pertencia à sua alma.
Queria voar, sair do chão.
Interpretar dependurada num balanço todo pueril.
Ou recostada num cenário todo rústico.
Trouxe sabe-se Deus de onde esse desejo todo.
Queria ser outra.
Ter uma vida com mais aventura.
Guardada a sete chaves para o casamento futuro,
Queria mais era desaprisionar-se!
Algo que fosse maior do que ir a eventos beneficentes, feito menina-moça bem educada.
Ou servir de parte receptora de sêmen, no momento do sexo.
Queria ousar, descabelar, despudorar.
Trazia isso consigo, intimamente.
E queria pô-lo para fora.
No entanto, seria taxada como louca ensandecida.
E talvez lhe trancafiassem mais ainda,
No sanatório do outro lado da cidade.
Oh! Pobre menina dos sonhos descabidos!
Talvez nunca houvesse conseguido realizá-los.
Ao menos que tenha fugido.
O final da história não posso eu dizer.
Afinal, não mais a vi.
Desde que cruzei com seus olhos,
Enquanto seguia, cabisbaixa, para sua aula de piano.
Ela me olhou e eu retribui.
Apenas olhou, e eu a fiquei observando.
Sentindo seu pedido de socorro abafado.
Ela se foi e adentrou à porta do sobrado de pedra.
E eu, sentado na porta da padaria de Pedro, lhe sorri com os olhos.
Não esbocei palavra alguma.
Mas, sei que ele sentiu que meu maior desejo
Era tirá-la de sua angústia.
É pena que ela não mais tenha aparecido por lá...

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