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Casada, escritora, com a alma rodeada de perguntas... Amo escrever... Sou alguém que coloca o coração em tudo o que faz... Que dá o seu melhor... E que ama traduzir sentimentos!

domingo, 11 de maio de 2014

Pintura





Sobre o divã de veludo arroxeado,
Coberta apenas pela metade do corpo,
A ruiva de cabelos curtos e cacheados se espreguiça.
Precisa permanecer assim, imóvel, mais algum tempo.
Toda despida e maquiada, é modelo amadora de seu amante.
Chama-se Aurélia.
Mas, quase sempre ele lhe chama de Lia.
Amadora nas poses do quadro que se forma.
Extremamente profissional nas poses que faz na cama, no divã...
Gosta de se exibir a Fernando.
E ele, mais do que nunca, ama sua exibição.
Casado com Eugênia, pai de Alberto...
Quase nem se recorda mais os tempos de casamento novo.
Enfeitiçou-se pela bela dama que frequentava sozinha, o bar da rua dezenove.
E foi justamente em dezenove de maio em que lhe enviou um bilhete.
Nele, o convite fora direto e malicioso.
E ela, que não era boba nem comprometida, o aceitara.
Nisso lá se vão quase três anos.
Três longos anos de um feitiço quase diabólico.
Apaixonou-se por ele ao primeiro beijo.
E desde então ele se tornou seu escravo.
Já se fez mucama, princesa e dama da noite.
Nunca se negou a executar o papel que ele quisesse.
E quis muitas personagens, também.
Ensaiou e executou suas performances com maestria.
Digna de aplausos e lambidas suaves ao pé do ouvido.
Sempre fora meio perversa.
Mas, não muito pervertida.
Escondia na gargantilha um pequeno tridente.
Todo cravejado por brilhantes chocolate.
O luxo, de certa forma, sempre fora um dos seus pecados.
Talvez o pecado capital que mais lhe fascinara.
E depois de conhecer Fernando e seus mimos...
Pôde aumentar sua coleção de pedras e metais reluzentes.
É dona de um olhar sedutor e de uma voz macia.
Talvez tenham sido esses seus primeiros atributos de enfeitiçar.
Hoje, com os pés ao alto, num salto vermelho como o batom, adora seu papel.
O de amante de luxo de um ricaço do interior.
Ele a olha, ela retribui.
Ele a devora, ela se deixa devorar.
Ele se sacia, ou só pela metade.
E ela, quase nunca se contenta com o que ganha.
Quer tudo em dobro.
Para matar em partes sua loucura!
Para continuar enfeitiçando e servindo de modelo.
Uma pintura a pinceladas longas e intermináveis.
Dadas conforme o mimo ofertado.
E retribuídas com o que tiver de melhor.
Porque a arte de se fazer personagem é dela.
E a de fazer estripulias mirabolantes é dos dois, ao menor encontro...

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