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Casada, escritora, com a alma rodeada de perguntas... Amo escrever... Sou alguém que coloca o coração em tudo o que faz... Que dá o seu melhor... E que ama traduzir sentimentos!

terça-feira, 8 de julho de 2014

Maria



Com chão de terra batida,
E paredes de pau a pique,
A pequena menina é quase gente grande.
Tem bem menos idade do que deveria ter, em suas obrigações.
Não é mãe.
Mas cuida de cinco crianças.
Feito escada, cada qual tem um ano a menos.
E é dela a função de cuidar.
De tudo.
E quando dito tudo, é tudo mesmo!
O galo mal canta no terreiro,
E o café já está caindo no fundo do bule.
Com broa de milho, sem muito enfeite.
E depois de forrar o estômago, é hora de labutar!
Num chinelo de dedo gasto pelo tempo e pela poeira,
Ela sai quintal afora, cuidar da lida.
Alimenta galinhas, que futuramente irão para a panela.
Colhe os ovos, para bater a omelete.
E enquanto prepara a comida, fica de espreita nos irmãos.
Encarregada dos menores, é quase mãe deles.
E não reclama da vida que tem.
Nem pode.
Se o fizer, apanha.
Então segue calada, numa escolha imposta.
Goela abaixo, faz tudo o que mamãe lhe pede.
E ela, a mãe, sai cedo para a roça.
Corta cana em tempo de safra.
Colhe laranja ou café quando do fim dela.
Ganha pouco, quase mal dá para comer.
E deixa a mais velha das crianças assumir o papel de mãe.
Não pode cobrar muito cuidado, pela falta que faz sua figura.
É pai e mãe, a mãe.
A figura paterna desceu rumo a São Paulo.
E nunca mais voltou.
Dizem tê-lo feito família nova lá para as bandas de Araraquara.
A menina cresceu desde os quatro anos sem pai.
E viu na força da mãe em sustentar todos sua força toda.
Sabe que cada corretivo recebido é uma forma de aprender.
Um aprendizado forçado e engolido sem choro nenhum.
As letras, nem conhece.
Sonha em um dia poder escrever seu nome.
Mas, sabe que a probabilidade é mínima.
Garota sem seios formados,
Traz nos pequeninos mamilos o desejo de ser mãe, um dia.
Sabe que, provavelmente, sua sina não será diferente.
Só espera ter mais sorte no amor.
Espera poder contar com seu homem nas horas duras.
Tem pouca idade, mas é grande.
Dona de um sofrimento que não é só seu.
Carrega nas mãos os calos do dia a dia.
E n’alma a inquietude de menina-moça.
Cheia de sonhos, desejos e angústias.
Mas tão somente assim, escondidos.
Para para contar sua história a Panqueca, sua cadela.
E ela apenas lhe abana o rabo.
Como que compreendendo cada lamentação.
Lamenta, lamenta... E espera!
Quem sabe um dia Deus lhe ouça.

E a menina Maria possa curtir a idade adulta na idade certa... 

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