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Casada, escritora, com a alma rodeada de perguntas... Amo escrever... Sou alguém que coloca o coração em tudo o que faz... Que dá o seu melhor... E que ama traduzir sentimentos!

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Dos Anjos



De saia até o pé, toda feita de retalhos,
A Dolores das Rosas roda suas rendas.
Esquento o tambor, acendo minhas velas e rezo.
Rezo muito, muito mesmo!
Quase todo o tempo...
Peço prece, cura, proteção.
Peço pelo filho que segue na prisão.
Pela nora que há de parir mês que vem.
E pelas tantas outras almas que a seguem...
E são tantas... Ó, Pai!
Pretas, brancas, coloridas.
Sofridas, perdidas, encontradas.
São infinitas as que querem um alô!
E minhas mãos são quase de fada.
Escrevo, escrevo no papel de pão
E quando a entidade vai embora estou exausta!
Mas, agradeço por poder cumprir minha lida.
Sou querida por todos do terreiro,
Desde o sanfoneiro que virou adorador,
Até o senhor de escravos que veio bater tambor, depois da cura.
E ao som do tamborim, sai o estopim necessário para meu trabalho.
De amor, de encantamento, de pensamento bom.
O tambor bate, repica,
E a velha Maria aqui salpica
Umas rosas, oferendas.
São prendas aos mentores.
Afastam os horrores do dia a dia.
Eu bem que queria ajudar a todos.
Mas, não é assim que é.
É na rodada da saia
Que guardo os meus.
Cada pano, um bem-querer.
Cada renda, uma fenda a expor.
Com sabor de pipoca, paçoca e aguardente.
Dizem-me crente quase nada!
Ora, essa!
Quem são eles a duvidar de meu dom?
Herdei de mamãe, ainda menina.
E ponho em prática com gosto.
Seja a gosto de Deus Pai ou de Pai André.
Um axé é sempre bom!
Refaz a alma, retoca o tom.
E põe quem me procura a pensar.
Benzo criança, vovó e marido.
Falo com santo, orixá e entidade.
Com o coração aberto e vontade daquelas grandes!
Rodo a saia, ajeito o tabuleiro,
E se preciso, sacudo o terreiro todo.
Não tenho medo da prosa.
Sou da Rosa, dos Anjos,das orações.
Entoo canções aos que me ajudam.
E como ajudam!
Sou Dos Anjos, como me chamam.
De dia, de noite, a qualquer hora.
E agora se me der licença,
Vou voltar às minhas rezas.
Todas fortes, procuradas.
Para salvar toda essa gente que me bate à porta.
Meio torta, vou-me embora.
Saio agora, sem demora.
Se quiser, espere.
Posso lhe desatar um nó
Feito em cipó, num trabalho qualquer.
Coisa de mulher ciumenta
Que não aguenta lhe ver contente.
Mas, a gente resolve isso.
Ah! Se resolve, sô!..


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