Há
dias em que a alma, meio perdida, pede todo o colo do mundo. E
assim, toda sem jeito, sente-se à deriva, à mercê dos próprios
quês... das decisões acertivas, dos momentos de reflexão dura e
solitária.E por isolar-se, numa reclusa quase que interminável,
para e pensa sobre o real doce da vida...
Um
doce viver perfumado, imensamente desejado até mesmo ao mais pobre
dos mendigos. Um querer todo coberto por encantamentos e inspirações
a nos fazer perder o fôlego,o juízo, o sono e do sério...
Então,
por hora surgem tantos questionamentos! E questionando, vê-se a
necessidade de agradar a outrem, como se esse outrem fosse parte
integrante de nós mesmos. Contudo, nem sempre vale a pena tanto
agrado, tão aconchego. Há momentos em que o melhor a ser feito é
observar até onde vai tanta bondade, tanto bem-me-quer. E só depois
deve-se pôr em prática os valores morais benéficos, em prol de um
alguém que nos ronda.
Não
devemos estar ilhados. Contudo, se, por vezes, estivermos cercados de
nós mesmos, certamente saberemos encontrar os motivos básicos para
que busquemos o bem.
Quando
digo buscar o bem, é óbvio que refiro-me ao bem como ser humano.
Mas, algo além dele, também. Um bem a nós mesmos, ao espaço que
ocupamos no meio do mundo. Um bem que nos faça querer estar nas
nuvens, que nos deixe totalmente fora do prumo, do foco. Um bem tão
prazeroso de ser sentido que nos adoce os lábios, mesmo sem bala
alguma a nos colorir a língua. Todo esse doce é sem dúvida um dos
meios mais fáceis de se atingir a plenitude de sentimentos.
Todavia,
quanto se dispõe o ser humano a buscar essa doçura de viver? Talvez
menos que uma tampa de xarope como medida. Ou até menos. Espera-se
muito que todo o bem nos caia do céu, nos pule no colo como criança
com medo da tempestade.
Somos
muito comodistas, esperando que o outro resolva nossos problemas, que
mate nossos medos e desilusões.
Ah!
Pobre do homem em crer que seja tudo tão fácil!
Se
o fosse, certamente não haveriam pobres criaturas mendigando por
abraços e atenções, ao invés de pratos de comida e tostões a
preencher as carteiras e o bolsos.
Somos
seres à espera do próximo, que, por fim, espera a mesma atitude, só
que de nós mesmos.
E
assim, numa espera quase que idiota, nada sai do lugar, e o fluido
segue como torneira velha e enferrujada. Mal vemos a água, e quando
sai, o amargo da ferrugem nos deixa fétidas as mãos, e acabamos com
gosto ruim na boca, como que se isso nunca mais saísse da língua.
Então,
perdemos a doçura da vida, nos tornamos amargos. Uma amargura que
acaba por adentrar à alma, e fazer morada nos alvéolos e capilares
existentes em cada sopro de ar que emanemos.
Ferimos
quem quer que conosco queira caminhar. Deixamos de lado as balas, os
chocolates. E passamos a saborear aquele “Halls” preto em meio
aos goles de conhaque e vodka. E talvez nem percebamos. Ferimos com
as mais duras palavras, com os olhares mais secos e sombrios.
Ferimos. E isso é fato. Mas, quando os outros acabam por retribuir o
que fazemos, permanecemos estupefatos, paralisados com tamanha falta
de postura e cordialidade.
Como
podemos nós sermos tão hipócritas ao ponto de querermos somente o
bem, se nem nos dispomos a sermos o bem a nós mesmos?
Olhamo-nos
no espelho, ao acordar e nem reparamos que estamos cada vez mais
enrugados por nossa própria ignorância, por nossa própria
austeridade e soberba! Somos icebergs, quando deveríamos ser sóis,
mesmo que fosse através do reflexo multifacetado de um espelho velho
e descascado, todo cheio de marcas de dedo e lembranças de lágrimas.
Somos
nós quem fazemos nosso dia ser tão doce quanto suspiro, e isso sem
dúvida faz toda a diferença!
Portanto,
cabe a nós, enquanto seres conhecedores dos caminhos, pararmos, nos
sentarmos na soleira da porta velha e embolorada pelas marcas da
vida, olharmos o pôr-do-sol e crermos que somos capazes de ousar,
seja para os outros, caso queiramos um olhar mais distinto e
direcionado, seja para nós mesmos, afim de que conheçamo-nos um
pouquinho mais, para que, lá no final das contas, não nos sintamos
tão visivelmente perdidos, amargos, abandonados por tudo e por
todos... Tão perdidos quanto à doçura do viver.
Talvez
seja essa uma boa receita...
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