Há almas em quase todo canto.
Umas boas, outras nem tanto.
Umas alegres, outras tristonhas.
Por algum motivo aparente ou não.
Umas perturbam só um pouquinho.
Outras para uma vida inteira.
E nem sempre há aquela paciência toda.
Em especial, em dia de tensão pré-menstrual.
Aqueles dias terríveis e intermináveis.
Onde qualquer folha vira Zé do Caixão.
São nesses dias em que eles aparecem.
Todos em suas órbitas, suas carcaças velhas.
A assombrar quem quer que seja.
Estão escondidos debaixo da cama, dos sonhos,
Prontos a penetrar no sono, deixando-nos completamente
insones.
Insones em noites de inverno,
Onde o caminhar das horas é mais lento.
E o balançar dos galhos nas vidraças mais assustador.
Feito múmias alegretes.
Ou com caretas de arrepiar as pestanas.
Gostam de variar o humor.
Por inúmeros motivos.
Indecifráveis para quem já se foi.
Ou nem foi, ainda.
Vivemos numa sopa de almas.
Todas postas num caldeirão gigante a fervilhar, pegar sabor.
Há sabores que são pegos.
Outros nem com reza brava.
Nem com mandinga de bruxa,
Com guisado de pernas de aranha e asas de morcego.
Há na verdade almas que não dão sopa.
Quando jogadas n’água, o guizado encrua.
Deve ser a dosagem dos ingredientes?
Talvez.
Ou pior.
Talvez a qualidade d’alma posta em fervura não seja das
melhores.
Em vida, na morte, além dela.
Dizem que o mundo é um misto de céu e inferno.
Creio que estejamos aprendendo a oscilar entre o quente e o
gélido.
Para que nos acostumemos quando chegar a vez
De mergulhar no enorme caldeirão das almas ensopadas.
Há almas em quase todo canto.
Num tanto ou além dele.
Desastrosas ou orientadas.
São tantas a perder as contas.
A perder as paciências.
A perder a vontade de ficar à espera delas.
Há almas por todo canto.
E neste momento as sinto.
Umas me atingem, outras não.
Umas brincam, outras fecham o semblante.
Coisa de característica.
Coisa de quem já sobra tempo na vida.
Ou na morte.
Coisa de sopa d’alma.
A fervilhar-nos, ora mais cedo...
Ora na hora certa de fazer “tchibum”...
Nenhum comentário:
Postar um comentário