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Casada, escritora, com a alma rodeada de perguntas... Amo escrever... Sou alguém que coloca o coração em tudo o que faz... Que dá o seu melhor... E que ama traduzir sentimentos!

domingo, 4 de setembro de 2016

Depois das Nuvens



Decidi não pintar as unhas, para banhá-lo. Para que pudesse pô-lo com um pouco de alegria nos olhos.
O esmalte ficou por tirar. Por passar. A unha por lixar. A sobrancelha por fazer. Contudo, sua aparência ficou bem mais inspiradora. De barba feita, cabelo cortado e limpo. Sobrancelha aparada. Bigode cortado. Unha limpa. Alma lavada.
Talvez hoje tenha sido aquele dia em que vale a pena guardar na memória. Em que ao lembrar, darei um breve meio sorriso no canto dos lábios, com a sensação de dever cumprido.
Pode ser que me considere piegas contando isso. Não obstante, prefiro ser taxada de idiota a ser ingrata.
Eu teria todos os motivos para não alegrá-lo. Para fingir que sua existência terminal não me afeta. Todavia, é muito diferente disso. É totalmente o contrário! Sua criancice anciã, cheia de teimosias, faz com que eu me sinta entristecida e sentimental.
A lágrima chega no canto dos olhos e se dissipa, quase numa evaporação desértica. É para que ninguém perceba o quanto esse final de vida dói.
Dói. E dói muito. Nas mais profundas cicatrizes d’alma. Nas mais belas recordações dos tempos de infância pueril.
É absolutamente difícil para mim vê-lo partir sem tentar achar razões para lutar. Desistiu de sorrir. De olhar a vida com a cabeça erguida. Hoje vê o mundo com olhos entristecidos e cabisbaixos.
Talvez por vergonha de tudo o que escolheu para si. Talvez por realmente não acreditar no poder regenerador do bem.
Já pediu para ir embora. Mas, sabe que não irá enquanto não chegar a hora. Sabe que talvez não vá para o céu. Tem consciência de sua austeridade. De sua braveza sem razão.
É teimoso, turrão, cheio de manias absurdas. Porém, é o meu genitor. Pelo bem ou pelo mal. Pelo querer ou por ter que resgatar algo do passado.
O ciclo se fecha aqui, depois que formos, nós dois. Pode ser que voltemos menos ásperos, com menos arestas a aparar. Ou que estagnemo-nos, por mais um pouco de teimosia sem razão.
Não sei eu. Não sabemos nós. O que sei é que, por hora, meu coração se aquieta, num choro contido, escondido, disfarçado pelo fim de tudo.
Só que hoje, eu preferi ele a mim. A satisfação pelo carinho à vaidade egoísta. E isso pode fazer toda a diferença lá na frente, depois das nuvens...

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