Talvez o raiar de sol
Que adentra pela fresta da janela
Venha me aquecer da solidão.
Talvez eu saiba o caminho...
Mas esteja à espera daquela mão toda especial
A guiar meus passos.
Talvez o ato de caminhar com as próprias pernas
Leve-me a muitos tombos, e hematomas eternos.
Entretanto, quando olhá-los, saberei que cada qual
Possui seu quê todo especial.
Acredito no amor, e em sua infinita força enquanto
mudança.
Creio que só seremos algo se realmente perdermos o medo
do escuro,
Do monstro que mora embaixo da cama,
E de sermos verdadeiros!
Crer em algo faz com que nos tornemos mais fortes,
(ou menos covardes)
Faz com que estufemos o peito e sigamos em frente
Mesmo sabendo que à frente mora um abismo;
Tão grande quanto as tormentas d’alma...
Tão sombrio quanto cada choro silencioso.
Fechar os olhos e teletransportar-me.
Voltar aos vestidos e anáguas,
Aos prantos e promessas...
Tudo tão vivo
Tão distante...
Ecoa-me n’alma
Cada lembrança
Cada melodia.
Cada choro solitário,
Sufocado pelos espartilhos
Amarrados pela dama de companhia.
Pensamentos rondam minha mente.
Ora com todo o sentido do universo,
Ora sem sentido algum que sirva.
Debato-me comigo mesma.
Busco respostas.
Ensaio prosas e versos.
Contudo... tudo não passa de ensaio.
Um ensaio sem fim.
Cheio de fantasias e perfumes
Maquiagens e brilhos a enfeitar.
Às vezes, faço graça.
Noutras, busco véus a esconder meus desalentos.
Busco encontrar-me em meio aos sonhos.
Devaneio muito, e quase sempre morro em mim mesma.
Uma morte lenta e dolorosa.
Carrega-me como que tentando arrancar os pecados
Que possa haver em meus poros.
Pecados... O que na verdade serão eles?
Um olhar distinto, adocicado.
Um perfume que vem com o vento
E nos remete a momentos ímpares.
Um sorriso, um meio sorriso quase que enigmático
E lá está nossa consciência a nos buzinar
moralidades.
Trancamos nossos portões.
Fechamos as janelas
Para que nada de mau nos aconteça.
Contudo, nos esquecemos que somos nós mesmos
Quem buscamos o mau.
Somos feitos de bondade
Mas recheados pela loucura!
Insanidade sem fim.
Somos levados ao delírio
E nem sequer percebemos o quão isso nos faz bem, às
vezes.
Delírios, loucuras...
O bem e o mau fundidos na carne.
As asas, ora alvas, ora negras
Fazem questão de estarem sempre buscando o vento.
Fomos feitos para voar.
Mesmo que percamos o fôlego.
Que as asas, enferrujadas pela falta de uso,
Queiram permanecer assim,quietinhas.
Fomos feitos de vento, de sol.
Somos filhos do sol e da lua
E essa nossa filiação
Sem dúvida nos permite buscar
O verdadeiro caminho.
Mesmo que para isso
Machuquemos nossos dedos, quebremos as unhas.
Somos asas, somos lágrimas.
E essa miscelânea toda
Nos faz ser seres humanos...
Seres em busca da luz
Mesmo que essa luz não brote de nós
E sim de algum anjo
Que conosco venha caminhar.
Seja por vontade própria
Seja para nos resgatar enquanto for possível fazê-lo.