Cabeceira de cama estofada.
Baú de memórias vintage.
Um espelho de penteadeira.
Uma escova dourada, banhada...
De frente a tudo isso, a moçoila.
Que relembra das memórias guardadas.
Que passa o pó de arroz e o rouge, o carmim.
Assim como quem adorna a vida.
Floreando as lágrimas com cheiro bom.
Escova as madeixas, mecha a mecha.
Enquanto relê as cicatrizes, as rugas.
Já passou da adolescência tem décadas.
Mas, ainda está intacta.
Como quando tinha menos de dezoito.
Pura, casta e subserviente.
Temente a Deus e aos homens.
Teve vida de boa dama...
Sem aventuras a lhe fazer conhecer o mundo.
No profundo de seu ego, egoísta foi.
Nas entranhas, estranhas criaturas
Fizeram -lhe morada.
Com direito a subir pelas paredes
Em meio aos sonhos mais pervertidos.
Quis viver a intensidade.
E na verdade, não o fez.
Talvez,por medo de desapontar.
Acabou não apontando o dedo para si, no espelho.
Hoje, chora sua covardia.
Queria viver, dizer que amou.
Do seu jeito torto.
Com seu coração bonito.
Todavia, hoje é tarde.
As décadas passaram.
Às memórias, só o brinde solitário.
Com vinho, água ou leite.
Perdeu tempo num tempo que lhe engoliu a vida.
Hoje, chora o leite não tomado.
Com canudo ou direto da fonte.
Há quem sinta sua falta.
Há quem dê graças por sua ida.
Ela não liga!
Já passou da fase de provar sua falta...
O futuro é logo ali.
Depois do arco -íris, ao término das nuvens...
Fica quem quiser, vai quem não quer estar.
É assim que funciona.
Mesmo quando a saudade aperta.
Afinal, foi na solidão
Que ela aprendeu a ser dona de si.
E a sentir vontade e não buscar ninguém...
Mesmo contra a sua vontade...
Porque ostra feliz não faz pérola.
E as mais raras são em tons de arco-íris...
Como seu coração!
Só conhece quem ela deixa penetrar em sua gosma.


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